sábado, 28 de maio de 2011

DISLEXIA - UM ESTUDO DE CASO CLÍNICO COM PARCERIA DA ESCOLA


Marta Carolina dos Santos

Resumo:  O presente artigo relata o estudo de caso de uma criança com queixa escolar. Descreve a aplicação da avaliação psicopedagógica e as técnicas de intervenção psicopedagógicas e pedagógicas, a interpretação da avaliação, o processo reeducativo e os resultados do trabalho multidisciplinar. Além do estudo de caso, apresenta-se uma análise introdutória do conceito de Dislexia descrita por pesquisadores desde suas primeiras abordagens sobre o tema. O objetivo deste estudo é divulgar a necessidade de identificar com clareza casos como desta criança na educação pública e a possibilidade de tratar com atenção adequada buscando a parceria entre a clínica psicopedagógica e a escola.

Palavras-chaves: educação, saúde, dislexia, diagnóstico, tratamento e intervenção.

Segundo o neuropsiquiatra americano Samuel T. Orton (1940), a dislexia é o resultado de um distúrbio do desenvolvimento que altera a estabelecimento normal da dominância hemisférica para a linguagem, para Orton, seria uma alteração da lateralidade hemisférica com implicações na orientação direcional e na memória visual. Outro pesquisador, Mac Donald Critchley (1968), define dislexia como transtorno da aprendizagem da leitura que ocorre apesar de uma inteligência normal, da ausência de problemas sensoriais e neurológicas, de uma instrução escolar adequada, de oportunidades socioculturais suficientes, além disso, depende de uma perturbação de aptidões cognitivas fundamentais, muitas vezes de origem constitucional.
De acordo com Debray & Bursztein, a dislexia é uma dificuldade duradoura na aprendizagem da leitura e a aquisição de seu automatismo em crianças normalmente inteligentes, escolarizadas e isentas de distúrbios sensoriais. Estima-se sua freqüência entre 5% a 10% dos escolares nos U.S.A.
Davis e Braun (1994), contrariando os conceitos relacionados a dislexia no começo e metade do século XX, afirmam que a dislexia é produto do pensamento e uma forma especial de reagir ao sentimento de confusão e pode ser corrigida. Para Davis e Braun, a dislexia é um tipo de desorientação causada por uma habilidade cognitiva natural que pode substituir percepções sensoriais normais por conceituações, dificuldades com leitura, escrita, fala e direção, que se originam de desorientações desencadeadas por confusões com relação aos símbolos. De acordo com DAVIS (1994), a dislexia se origina por um talento perceptivo.
Diante das definições e procedimentos específicos de avaliação diagnóstica da dislexia, optou-se em realizar uma avaliação multidisciplinar, buscando a visão de especialistas da saúde e educação através da avaliação psicopedagógica convergente.
Descreve-se o relato apresentando as partes envolvidas na abordagem, primeiramente o histórico da criança encaminhada, depois a queixa escolar, a linha de investigação psicopedagógica, as avaliações, a interpretação dos resultados e finalmente os encaminhamentos.

1. A criança: Y.L.R. tem sete anos e seis meses de idade, freqüenta a primeira série do ensino fundamental numa escola pública municipal. Freqüentou a pré-escola e desde aquele ano observou que suas habilidades e desempenho apresentavam abaixo do esperado para sua idade. Foi informado à família através de avaliação descritiva a dificuldade constatada durante o ano letivo. A família observou que Y.L.R. apresentava dores de cabeça e tonturas.
Ao ingressar na 1ª série do ensino fundamental, observou que os sintomas de dores de cabeça continuaram principalmente após ter se esforçado para escrever ou na tentativa de ler. Foi realizado exame oftalmológico e foi constatada a necessidade de utilizar óculos. Mesmo usando óculos há dois meses continuou a apresentar os sintomas de dores de cabeça e tonturas. Teve muito apoio e orientação da família e muito interesse nas atividades escolares.
Foi encaminhado ao atendimento psicopedagógico depois de ter tido reforço pedagógico desde fevereiro de 2005. Iniciou o atendimento psicopedagógico no início de junho daquele mesmo ano.
Y.L.R. é filho único e mora com sua mãe, avós, tios e primos. Seus pais são separados e não tem muito contato com o pai. Segundo relato da mãe, seu irmão, tio de Y.L.R., apresentou grandes dificuldades de aprendizagem escolar na infância, tendo sido atendido por psicólogos e psicopedagogo.

2. Queixa Escolar
A queixa escolar relatada pela professora e família foram: grandes dificuldades no domínio da leitura e escrita, apresentando omissões de letras ou distorções, escrita freqüentemente invertida. Lentidão para escrever não acompanhando os conteúdos propostos na 1ª série. Pulam-se palavras ou linhas na leitura ou na escrita. Durante a aula em sua produção escrita aparecem letras de tamanhos muito diferentes.

3. Linha de Investigação
A Epistemologia Convergente é uma linha de estudos utilizada no campo da psicopedagogia, que busca a convergência dos diferentes aspectos que constituem o sujeito: epistemofilico, epistemológico, epistêmico. Avaliações Específicas para Diagnóstico de Problemas de Leitura.
Aspecto Epistemofílico: aplicou-se anamnese assistida, anamnese descritiva, observando seu desenvolvimento a partir de relatos médicos e pessoas na família que apresentaram alguma semelhança nas dificuldades de aprendizagem e desenvolvimento.
Aspecto Epistemológico: aplicou-se as provas piagetianas, provas de competência fonológica, avaliação de habilidades perceptivas, psicomotoras, Reversal test e Piaget Read, Teste de vocabulário verbal e IDT.
Aspecto Epistêmico: aplicou-se provas projetivas Coleção papel de carta de Leila Chamat, provas projetivas Jorge Visca, Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem e Entrevista Operativa Centrada no Brinquedo, buscando analisar as relações vinculares com o meio familiar, social e com a aprendizagem.

5. Descrição dos resultados
Constatou-se que no desenvolvimento cognitivo apresentou déficit nos aspectos lógico-matemáticos, pouco domínio das unidades numéricas e em estabelecer correspondência termo a termo, conservar e quantificar, no entanto, apresenta facilidade para estabelecer critérios para classificar e inclusão de classes demonstrando estar em fase intermediária entre pré-operatória e operatório concreto. Observou nas avaliações perceptivas leve tremor e tonturas. Lentidão no planejamento motor de letras e números, bem como copiar símbolos e perceber posições opostas nos símbolos. Apresentou velocidade para escrever abaixo da média, demonstrando certa hipoatividade para executar tarefas de documentação. Idade mental de acordo com idade cronológica conforme produções de seus desenhos e linguagem verbal argumentando com lógica suas respostas, conforme sua idade cronológica.
Nos testes específicos de linguagem (IDT/PCFF/CPC L.S. CHAMAT) apresentou grandes dificuldades em memória e seqüência de palavras, dificuldades com rimas. Grandes dificuldades em memorizar letras e números. Na linguagem oral apresentou centralização do pensamento, o que é natural na sua idade. Na EOCA apresentou pouca iniciativa para criar e lentidão para executar uma tarefa, apesar de planejá-las com desenvoltura, perdia facilmente a linha de pensamento.
Na anamnese constatou-se que aprendeu a falar e a andar tardiamente, o que merece maior atenção para seu ritmo de aprendizagem e aquisição de habilidades, relata a mãe que nas últimas horas que antecederam o parto teve muitas dores de cabeça e tonturas.

5.1. Interpretação das avaliações aplicadas
Conforme avaliações aplicadas, o diagnóstico poderia ser descrito como Atraso Global de Desenvolvimento (AGD), porém neste caso a expressão verbal para responder a questionamentos deveria apresentar déficits, ou seja, utilizar um pensamento inanimista para justificar uma afirmação ou não ser capaz de planejar uma tarefa com independência de acordo com a Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA). Outro ponto avaliado foi o desenho que expressou certo retraimento, mas segundo os estágios de desenvolvimento do domínio da expressão gráfica está de acordo com sua idade. Estes detalhes da avaliação descartaram a hipótese de ser Atraso Global de Desenvolvimento; pode-se pensar numa possível inibição intelectual causada pela falta de domínio na percepção visual e orientação espacial; a dificuldade de equilíbrio que possivelmente influenciou a habilidade para andar. Segundo informações apresentadas no site da Associação Nacional de Dislexia, relatam as inibições intelectuais e o retraimento de crianças disléxicas causadas pelos sintomas nos primeiros contatos com a escolarização, até mesmo na pré-escola, bem como atraso no desenvolvimento motor desde a fase de engatinhar, sentar e andar, atraso na aquisição da fala. Segundo a Associação Nacional de Dislexia, a criança poderá apresentar grandes dificuldades no conhecimento matemático, principalmente no que se refere a aritmética. Além da avaliação psicopedagógica, se fez necessário adquirir uma avaliação neurológica para observar com rigor os sintomas de dores de cabeça e tonturas, além de oportunizar ter um mapeamento de seu cérebro, através dos exames neurológicos.

6. Encaminhamento:
De acordo com as avaliações aplicadas e o conteúdo manifesto nas tarefas executadas, aliados aos sintomas de ordem funcional solicito um encaminhamento ao neuropediatra para avaliação e parecer quanto aos sintomas (dores de cabeça e tonturas). Recomenda-se uma avaliação da fonoaudióloga apresentando dificuldades na pronúncia e posicionamento da língua e dos dentes para expressar sons e fonemas.

7. Conclusões:
Na escola Y.L.R. passou a ter uma atenção mais intensa da professora regente. Ela o observava e ao seu lado um colega o ajudava a manter a escrita na posição e linha corretamente. Muitos jogos de memorização visual, auditiva e gestual foram aplicados durante a aula. A professora ofereceu a leitura labial outro recurso valioso para a criança. Todos participaram das atividades com entusiasmo tornando possível para todos independente de suas aptidões pessoais, o entusiasmo e o interesse em participar destes momentos que contribuíram para o aprimoramento ou desenvolvimento destas habilidades a cada aluno.  No consultório, Y.L.R. passou a receber orientações para melhorar sua habilidade perceptual, melhorando consideravelmente sua compreensão no que se refere às letras, sons, fonemas, símbolos, utilizando a escrita e o desenho espontâneo para expressar desejos e necessidades que devido ao retraimento eram difíceis de serem manifestadas.
A partir do 2° semestre a abordagem com a criança esteve centrada nas habilidades perceptivas, gestão mental e abordagem metacognitiva. Durante as sessões foi estabelecido como objetivo o resgate da auto-estima, a conquista de vínculos com pessoas fora do contexto familiar e o vínculo afetivo com o contexto escolar, melhorando conseqüentemente a relação vincular com a aprendizagem.
No espaço de reeducação pode-se observar que ao longo das sessões, dominou o reconhecimento de dezesseis letras do alfabeto, as demais letras estão sendo apresentadas através de recursos pedagógicos e psicopedagógicos. Observou melhoras no reconhecimento de palavras em situações de jogos lúdicos. A comunicação verbal foi manifestada com mais ênfase expressando com clareza seus desejos e necessidades. Porém, paralelamente aos avanços na linguagem verbal, houve manifestações de instabilidade emocional decorrentes da frustração em relação ao desempenho escolar e cobrança da família. Embora tenha evoluído durante a reeducação psicopedagógica, responde com ritmo diferente no espaço escolar.
Está sendo trabalhado com a família a compreensão do sintoma levando em consideração que os casos ligados aos transtornos ou atrasos, síndromes ou inibições na aprendizagem, requerem a aceitação da família e a própria criança de suas limitações iniciais, levando-a acreditar em melhorar seu desempenho através do auto-conhecimento de suas reais possibilidades de superação.
A proposta é continuar oportunizando atendimento psicopedagógico, acompanhar seus avanços com o grupo e a relação vincular com a aprendizagem e com os professores.
Quanto ao parecer escolar, embora se tenha oferecido atividades e meios estratégicos para acompanhar os conteúdos curriculares, Y. necessita rever alguns conteúdos, mas a aceitação da criança e o acolhimento dos educadores, favoreceram e estimularam a criança a recomeçar e Ter acesso ao conhecimento real.
Atualmente, Y.L.R. venceu o retraimento, comunicando-se melhor com seus colegas, participando e percebendo a realidade com mais entusiasmo, escrevendo e lendo com mais confiança, apesar de seu esforço e apesar dos erros. Continua ocorrendo algumas inversões na escrita, mas ele consegue se corrigir, identificando a inversão, o que antes era uma tarefa quase impossível para ele. Concluo que não basta apenas identificar o sintoma, é necessário adaptar-se a situação e buscar parceria, um trabalho solitário na clínica será difícil, mas um trabalho pelo qual, profissionais se empenham, dedicando-se um pouco mais, será possível lidar com a diversidade da aprendizagem escolar. O papel da família e da escola em aceitar as propostas de intervenção e participação, buscando uma abordagem coletiva, valorizando os avanços de cada aluno, conforme seu ritmo de aprendizagem é a base fundamental para a inclusão social e o sucesso do atendimento psicopedagógico.

Psicopedagogia mensagem

Psicopedagogos 
 

 
 
                    tem caixa-lúdica?-tem
                    tem tinta,cores,tesoura,
                    papel colorido,livro com flores,
                    bonecos carrinhos…carinhos
                    tem tempo para avaliar,
                    e tempo de intervir,deixar fluir!
                    tem aprendente,tem ensinante
                    formando o ”par educativo ”.
                                tem um "sujeito"
                    cujo desejo de aprender alguém roubou…
                                 tem anamnese…
                    histórias compridas,de vidas sofridas,
                                  histórias enfim…
                    psicopedagogia,fazer, feito de fala,escuta e afeto;
                    saber,que se acha nas linhas e entrelinhas do que se diz.
                             psicopedagogo:um jeito de ser e fazer feliz.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

NAVEGANDO NA INTERNET ENCONTREI ESTE BELO TRABALHO SOBRE AUTISMO

A síndrome do autismo pode ser encontrada em todo o mundo e em famílias de qualquer configuração racial, étnica e social. Não se conseguiu até agora provar nenhuma causa psicológica, ou no meio ambiente destas pessoas que possa causar o transtorno. Os sintomas, causados por disfunções físicas do cérebro, podem ser verificados pela anamnese ou presentes no exame ou entrevista com o indivíduo, estas características são: Distúrbios no ritmo de aparecimento de habilidades físicas, sociais e lingüísticas; Reações anormais às sensações, ainda são observadas alterações na visão, audição, tato, dor, equilíbrio, olfato, gustação e maneira de manter o corpo; Fala ou linguagem ausentes ou atrasados. Certas áreas específicas do pensar, presentes ou não.

Ritmo imaturo da fala, restrita de compreensão de idéias. Uso de palavras sem associação com o significado; Relacionamento anormal com os objetos, eventos e pessoas. Respostas não apropriada a adultos ou crianças. Uso inadequado de objetos e brinquedos.

Para um diagnóstico clínico preciso do Transtorno Autista, a criança deve ser bem examinada, tanto fisicamente quanto psico-neurologicamente. A avaliação deve incluir entrevistas com os pais e outros parentes interessados, observação e exame psico-mental e, algumas vezes, de exames complementares para doenças genéticas e ou hereditárias.

No início do século XX, a questão educacional passou a ser abordada, porém, ainda é muito contaminada pelo estigma do julgamento social. Nos dias de hoje, entre todas as situações da vida de uma pessoa com necessidades especiais, uma das mais críticas é a sua entrada e permanência na escola. Ainda hoje, embora mais sutil, pratica-se a "eliminação" de crianças deficientes do ambiente escolar. Por tudo isso os professores agora estão sendo preparados para adaptar a criança com necessidades especiais para prolongar a sua permanência na escola dita normal.

Hoje, não se pensa mais no autismo como algo incurável e já é impossível se falar de atendimento à criança especial sem considerar o ponto de vista pedagógico. Essas crianças necessitam de instruções claras, precisas e o programa devem ser essencialmente funcionais, quer dizer, ligado diretamente ao portador da síndrome.

Abordar este tema é de fundamental importância e o maior desempenho depende da motivação em mostrar que essas crianças podem se relacionar com a sociedade. Do autismo em escolas normais e não a sua segregação ou isolamento em escolas especializadas. Este trabalho tem como objetivo mostrar a importância do pedagogo na Educação da criança autista. Como disse o professor Marcelo Bezerra da Silva, "é de extrema importância retirar o autismo do gueto e trazer para a luz de discussões as dificuldades enfrentadas por crianças e famílias inteiras. Inserir o tema de maneira consistente para que os pedagogos possam ajudar a sanar o preconceito e a melhorar o desenvolvimento e a qualidade de vida dessas crianças".